segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Manual de instrução: Não era amor



- "Então é isso. A decisão foi sua".

Recordo-me bem das suas últimas palavras antes de vê-lo sair pela porta das minhas memórias. Preferi te responder com meu silêncio. A verdade é que ainda sou assombrada pelo seu fantasma perambulando na casa. As lágrimas dilaceram a face e as perguntas surgem como gotas de orvalho: será que era amor?  E se não fosse que nome teria? Pela manhã eu estava plena, feliz, completa. E quando o manto negro desceu sob a abóboda estrelada eu já estava diminuída, desamparada e só. Já não sabia dizer o que nascia dentro de mim sem nome.
Se você não conseguiu responder às minhas perguntas, como espera que eu mesma faça? Descobri que sou feliz sem você. E descobri sozinha, quando mergulhei sem pretensões de voltar no desconhecido que sou. Quem me fez refletir e abrir as cortinas do espetáculo da vida foi você mesmo, é você quando saiu da minha vida me deixando com os olhos vidrados nas gotas de chuva que arremessavam sua fúria contra as vidraças da janela.
 Quando meu corpo finalmente encontrou o solo e despedaçou-se depois de pular do abismo que me encontrava, percebi que minha alma levantou-se e continuou livre. Nada mais importava eu permanecia viva, restaurada presa à minha própria liberdade.
 Sorri incontrolavelmente e às pressas voltei pelo vielas vagas de lembranças e para cada uma dei meu olhar mais bonito.
De uma coisa estou convicta, por mais que tivesse partido para viver novos amores você voltaria e a porta continuaria entreaberta, seu perfume pelo ar e cama feita. Porque não é a presença que te satisfaz é a espera, é a demora. De fato, “eu nunca te amei, eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada”.* (Martha Medeiros)

Keli Wolinger

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Literatura do destino




A verdade é que eu nunca vou estar pronta...

Escrevo para traçar aquilo que em mim fica sem contorno. Preciso preencher o vazio deixado pelo espaço entre os seus abraços. Tento me reinventar de novo, mas não espere que eu vá renunciar a mim, pois "não sei separar os meus fracassos das minhas vitórias". Sou prolixa, não abdicarei de nenhum pedaço do que sou. Livre, efêmero, pulsante...No intervalo das horas releio o roteiro da minha existência. Não há como fugir das entrelinhas do tempo, dos versos amargos do destino, das páginas em branco da saudade, da conjugação do amor em tempo presente. Precisarei de mais do que adjetivações e de frases sem pontos finais. É necessário se fazer sentir, render-se à curva da interrogação e a conviver com meu desequilíbrio, meu desalinho constante, com minha tempestividade e estar pronta para as surpresas de cada capítulo que ainda está por vir.

Keli Wolinger


“Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus, e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora ....

É mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir

Vou deixar a rua me levar”.... Pra rua me levar – Ana Carolina


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Segredos remotos


“I need another story | Preciso de outra história
Something to get off my chest  | Algo que saia do meu peito
My life gets kind of boring  |Minha vida está entediante
Need something that I can't confess... | Preciso de algo que eu não possa confessar" (Secrets - One Republic )

Sou um verbo não conjugado. Um amontoado de vírgulas, completa por excesso de ausências. Provenho de um tempo findo, ancestral. Sou arrebatada por lembranças daquilo que sou quando me deixo ser ao seu lado. Não tenho a pretensão de ser o amor da sua vida, apenas inesquecível em suas memórias constantes. Você desconhece a dor causada pela partida. Não me refiro a sua , á me acostumei sem a sua presença pela casa, mas sim aquele pedaço de mim que levou contigo deixando apenas os espaços vazios no peito. “A saudade é o amor que fica”, o rio que vaga pelas entranhas e estende seus braços sobre os pensamentos. Permita-me então, transbordar esse amor que trago dentro de mim, em tom maior, preciso te fazer senti-lo, assim em maiúsculo. Tão simples como lágrimas que caiem dos céus em forma de chuva a cada vez que meus lábios ficam a espera dos seus. 

Keli Wolinger


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