- "Então é
isso. A decisão foi sua".
Recordo-me bem das suas últimas palavras antes
de vê-lo sair pela porta das minhas memórias. Preferi te responder com meu
silêncio. A verdade é que ainda sou assombrada pelo seu fantasma perambulando
na casa. As lágrimas
dilaceram a face e as perguntas surgem como gotas de orvalho: será que era
amor? E se não fosse que nome teria?
Pela manhã eu estava plena, feliz, completa. E quando o manto negro desceu sob
a abóboda estrelada eu já estava diminuída, desamparada e só. Já não sabia
dizer o que nascia dentro de mim sem nome.
Se
você não conseguiu responder às minhas perguntas, como espera que eu mesma
faça? Descobri que sou feliz sem você. E descobri sozinha, quando mergulhei sem
pretensões de voltar no desconhecido que sou. Quem me fez refletir e abrir as
cortinas do espetáculo da vida foi você mesmo, é você quando saiu da minha vida
me deixando com os olhos vidrados nas gotas de chuva que arremessavam sua fúria
contra as vidraças da janela.
Quando
meu corpo finalmente encontrou o solo e despedaçou-se depois de pular do abismo
que me encontrava, percebi que minha alma levantou-se e continuou livre. Nada
mais importava eu permanecia viva, restaurada presa à minha própria liberdade.
Sorri
incontrolavelmente e às pressas voltei pelo vielas vagas de lembranças e para
cada uma dei meu olhar mais bonito.
De uma coisa estou convicta, por mais que
tivesse partido para viver novos amores você voltaria e a porta continuaria
entreaberta, seu perfume pelo ar e cama feita. Porque não é a presença que te
satisfaz é a espera, é a demora. De fato, “eu nunca te amei, eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela
verdade inventada”.* (Martha Medeiros)
Keli
Wolinger