segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quando aprendi...

Estou de volta!! :D Uma ótima segunda para todos com muito carinho, abraços e beijos no coração.


Quando decidi que a pessoa que eu mais amaria no mundo era a mim mesma, aprendi o significado de amor próprio.
Quando eu mais me sentia perdida em minhas dores, aquele que a causou foi o mesmo que me ensinou o caminho, aprendi então o significado de perdão.
Quando já não tinha mais forças para seguir encontrei um ombro amigo que me auxiliou a recuperar minha esperança, aprendi assim o que é superação.
Quando minhas falhas foram maiores que meus acertos precisei me redimir e aceitar meus erros, aprendi assim o que é humildade.
Quando meus objetivos não foram alcançados e precisei começar tudo novamente, aprendi o significado de persistência.
Quando eu desisti de tentar encontrar a felicidade percebi que nós deveríamos fazer um acordo, nem eu correria atrás dela, nem ela fugiria das minhas mãos um dia nós nos deparamos.


Keli Wolinger

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tente outra vez

Segundo um dito popular “o ano só inicia depois do carnaval,”pois eu não penso desta maneira faço o uso da ambiguidade para dizer que eu Pulo o Carnaval do calendário.
Reservei para esta quarta feira de cinzas, que marca o início também de dias préestabelecidos pela era cristã para reflexão. Ao meu ver essa purificação interna deve acontecer todos os dias, não há nada melhor do que nos levantarmos mais fortes e preparados após a queda – para hoje vamos relembrar as palavras de um poeta que nos deixou cedo Raul Seixas membro interino da sociedade dos poetas mortos que deixaram saudades.

Beijos no coração

Keli Wolinger


Tente Outra Vez
Raul Seixas/ Marcelo Motta/ Paulo Coelho
Veja!

Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez

Beba! (Beba!)

Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não penseQue a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!Não! Não! Não!



Há uma voz que canta

Uma voz que dança
Uma voz que gira(Gira!)
Bailando no ar

Queira! (Queira!)

Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!

Tente! (Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pretensão


Encontro em minha solidão
companhia para as respostas dos meus devaneios

No abraço daquele que me traiu
incide o conforto para minhas angústias

Não quero ser a lembrança de algo bom
tenho a pretensão de ser inesquecível

Porque eu sou o fogo e o gelo
O sol e a chuva de verão

Eu sou o frio e o abrigo

O silêncio e o riso da multidão

Eu sou o verso, a rima e a poesia

O descompasso e o desuso

Metade de mim é amor
e a outra loucura

Sou composta por razões e incertezas

Eu sou tudo aquilo que habita em você
e já não cabe mais em mim

Keli Wolinger


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Hoje é dia de Conto!!

Como toda quinta - feira é dia de conto o convidado de hoje é Fernando Moraes, ele já esteve por aqui.
Fernando é acadêmico de jornalismo e publicou este conto em um livro do projeto SESC de Lei de Incentivo à Cultura.
Como o espaço da blogosfera auxilia novos talentos então vamos divulgá-los!!
Espero que todos gostem de suspense :D grande abraço e boa leitura a todos.
Keli Wolinger



DISTRAÍDO PARA A MORTE – A PICK-UP MALTIDA
A carona
- Ei, você está indo pra onde? Quer uma carona? – perguntou Bartolo quase parando sua pick-up Chevrolet.
Do lado de fora, um homem caminhava lentamente sob o forte sol de verão, não dando muita importância para a pergunta dele.
A pick-up continua em marcha lenta e pára alguns metros a frente do homem que tira as mãos do bolso de sua jaqueta de couro cor de avelã, ajeita seu boné dos Yankees e anda até a porta do carona.
- Para onde você está indo? – indagou mais uma vez Bartolo esticando o braço deixando a porta do carona entreaberta. - Vamos entre.
O homem dos Yankees coloca a mão sobre a porta puxando-a lentamente.
- Meu nome é Bartolo – ele esticou a mão na direção do homem que fechando a porta, se acomoda no banco colocando a perna para fora a apoiando no retrovisor. - Ah, sem conversas? Tudo bem, você é que sabe.
A Chevrolet fica roncando e em seguida sai pela estrada rumo ao norte. Bartolo liga o rádio e endireita seus óculos de grau. Os dois ouvem Where Did You Sleep Last Night na versão do NIRVANA.
- Eu adoro essa música.
- Prefiro cantada pelo Leadbelly – retrucou o homem com o boné sobre o rosto.
Lamentamos interromper a música – começa a falar o locutor. Mas temos péssimas notícias – ele faz pausa e com a voz cortante volta a falar:
Hoje pela manhã a polícia achou o corpo de uma jovem no quarto do Motel 96. A jovem Mônica Andrade de 21 anos estava desaparecida desde ontem... ela foi brutalmente assassinada... E o que mais chamou a atenção deles... – o locutor sussurra um meu Deus! Era que todas as unhas de suas mãos haviam sido arrancadas.
Um silêncio mórbido surge no rádio, mas logo é quebrado com o retorno da música.
- Você reparou que tem sangue na traseira da sua camionete? – falou o estranho levantando um pouco a aba do boné.
Bartolo dá uma cuspidela pela janela e olha com rabo-de-olho para ele.
- Ah, o sangue? É da raposa que eu matei. Eu caço raposas.
- E por que você faz isso? Elas lhe fizeram algum mal?
- Não, não – respondeu ele com a voz um pouco presa. - Eu as empalho e depois as vendo.
- O que você acha? – indagou o homem mudando de assunto.
- O que eu acho do quê?
- Da jovem... que mal ela deve ter feito na vida para morrer desse jeito?
Bartolomeu com seus 48 anos não sabia como responder àquela pergunta, e não estava nenhum pouco a fim de conversar sobre aquilo.
- Eu fico pensando... Isso que é estar na hora e no lugar errado você não acha?
- É sim. Eu acho – Bartolo liga o limpador para tirar os restos de moscas do pára-brisa.
Mas à frente eles param em um posto de gasolina. Bartolo desce para abastecer, enquanto o outro caminhava lentamente até a loja de conveniências. Bartolo termina de abastecer e vai até a loja. Assim que entra ele não o vê, o que o faz pensar que por algum motivo deveria ter ido embora.
Assim que começa a sair do posto, Bartolo leva um tremendo susto ao ver aquele homem se enfiar na sua frente colocando as mãos sobre o capô.
- Você está louco? – ele gritou. - Você só pode estar louco.
- Me desculpe, mas tive que ir usar o banheiro.
O sol brilhava forte sob eles fazendo o asfalto parecer molhado no horizonte. De repente ouvisse um estouro vindo da traseira.
- Mas que merda! – esbravejou Bartolo. - Isso só pode ser brincadeira.
A pick-up pára mais a frente, fora da estrada. Com um trancão ele abre a porta e anda até a traseira, enfia a mão pro lado de dentro da carroceria pegando o macaco hidráulico e a chave de roda.
O homem também desce.
- Não se preocupe. - Eu resolvo isso rapidinho.
O homem parecia não ter escutado, pois anda até a mata e some entre algumas árvores.
- Ah, você está aí... pensei que tivesse sumido de novo.
Bartolomeu sente algo penetrar seu pescoço antes de cair morto.
Com um forte estalo metálico a carroceria é fechada. O estranho homem arruma a aba do boné para trás e anda em direção a frente da pick-up. Com a mão suja de sangue ele dá a partida e em seguida liga o rádio onde se ouvia Con Te Partiro de Andréa Bocelli. O retrovisor interno é ajeitado revelando sobrancelhas grossas e olhos profundos.
- Muito prazer Bartolo, meu nome é Charles.
A Ida
A chaleira assobiava sobre o fogão.
- Pode vir o café está pronto.
- Bom dia, mulher! Mas que cheiro bom – falou o marido andando com passos fortes sobre o assoalho. - O que você fez?
- Coloquei duas cascas de canela para ferver com a água. Para onde você vai com essa arma? – indagou ela.
- Você sabe muito bem para onde eu vou. Afinal tenho que colocar comida na mesa.
- E são os pobres animais que pagam por isso – ela disse enchendo a xícara com café.
- Tenho que ir. Senão eu não consigo chegar até as montanhas. Não esqueça de acordar aquele seu filho e mandá-lo cortar a lenha. – A mulher ganha um suave beijo na testa. E ao se sentar, vê seu marido partir fechando a porta.
- Scotch, venha cá. Cuide bem da casa – o cachorro larga dois latidos antes de se aproximar do dono. - Bom garoto, bom garoto – ele disse esfregando sua mão sobre o pêlo fino e ralo.
A porta da pick-up Chevrolet é fechada com força antes de sair levantando poeira na estrada. Ele ajeita sua espingarda de caça no banco e liga o rádio. – David Bowie cantava The Man Who Sold The World.
21:40 NOITE ADENTRO Bar
A pick-up pára no estacionamento. Lá dentro um emaranhando de gente se espremia nas mesas.
- O que vai querer para beber? – perguntou o barman.
- Uma cerveja bem gelada, obrigado.
- Ai que doideira essa gente toda – falou uma jovem debruçando-se sobre o balcão e dobrando uma das pernas. - Eu quero... espera um pouco, deixa eu me localizar. Eu quero duas cervejas bem geladas... uma para mim e outra para o meu amigo sentado ali naquela mesa.
- Aqui está a sua cerveja caubói. E você mocinha, espere um pouco OK?
- Oi tio, tudo bem? – indagou a jovem passando o dedo sobre o decote de sua camiseta regata justa. - Está sozinho aqui é?
- Pronto, pronto, mocinha. Aqui estão as suas cervejas.
- Muito o-bri-ga-da. – ela respondeu antes de sair cambaleando pelo bar.
- Então caubói, o que faz por aqui? – perguntou o barman puxando assunto. - Você não me parece estar atrás de diversão.
- Não. – ele dá um gole seco na cerveja. - Estou indo para as montanhas caçar.
- E que tipo de coisa está indo caçar?
- Obrigado pela cerveja, mas preciso ir andando.
Motel 96
Um carro em alta velocidade fura o sinal ao som do Rage Against The Machine antes de entrar na rodovia.
Aquele filho da puta. Vai ver só o que é bom. Como ele foi capaz de fazer uma coisa dessas? Mas ele vai ter o que merece, todos na cidade vão ficar sabendo.
21:35 NOITE ADENTRO Bar
O carro levanta poeira ao parar violentamente no estacionamento. A jovem entra no bar e anda até o balcão.
- Oi.
- Oi – respondeu o barman. - O que você está...
- Eu quero uma dose de tequila e agora.
- Tudo bem, mas eu acho que...
- Você não tem que achar nada – ela o interrompe mais uma vez. - Hoje eu quero me acabar.
- Pronto aqui está a sua tequila.
A jovem vira de uma vez só o copo e anda em direção as mesas.
- Posso me sentar aqui com você?
- Fique a vontade – falou um homem tomando um gole de cerveja.
- Observei você lá do bar – ela se virou na cadeira apontando para mostrar-lhe onde estava. - E notei... Ah, não interessa o que eu notei. Posso? – ela aponta para a caneca de cerveja sobre a mesa.
Endireitando-se na cadeira o homem empurra a caneca em sua direção. Ela a pega e toma em um só gole o resto da cerveja.
- Precisamos de mais. Eu já volto.
Uma cerveja bem gelada, obrigado.
- Ai que doideira essa gente toda. Eu quero... espera um pouco, deixa eu me localizar. Eu quero duas cervejas bem geladas... uma para mim e outra para o meu amigo sentado ali naquela mesa.
- Aqui está a sua cerveja caubói. E você mocinha, espere um pouco OK?
- Oi tio, tudo bem? – ela passa o dedo sobre o decote de sua camiseta regata justa. - Está sozinho aqui é?
- Pronto, pronto, mocinha. Aqui estão as suas cervejas.
- Muito o-bri-ga-da. – ela respondeu antes de sair cambaleando pelo bar.
- Demorei, mas cheguei – ela solta um riso estranho.
O homem pega a caneca e toma um gole.
- Que tal a gente sair daqui hein? O que você acha? – levemente sua mão desce e pousa sobre a coxa dele. - Venha eu conheço um lugar ótimo pra gente passar a noite – ela disse levantando-se da cadeira. - Te espero lá fora.
A jovem cambaleia até a porta saindo do bar.
O Homem ainda bebe mais um pouco antes de sair.
- Pensei que teria que ficar a noite toda aqui – ela falou entrando no carro. - Vamos entre! – Ela buzina ligeiramente duas vezes para ele.
MOTEL 96
- Você nunca mais vai se esquecer dessa noite – ela disse ao abrir a porta do quarto.
Assim que entram ela se vira para o homem tirando sua camiseta, fazendo seus seios brancos se arrepiarem por causa do ar-condicionado.
- Venha. Você pode fazer o que quiser comigo – ela dá as costas para ele.
- Eu estava mesmo pensando em fazer outra coisa – ele disse fechando a porta.
08:23
Bartolomeu joga as duas raposas no fundo da carroceria da sua pick-up Chevrolet e com as mãos sujas de sangue trava a porta seguindo de volta para sua casa.
O homem sai do quarto e entra em uma loja de conveniências que fica ao lado do motel. Ele se aproxima do balcão e diz:
- Vou levar aquele ali – ele disse apontando para um boné dos Yankees pendurando no mostrador.
- Boa escolha. Está um inferno lá fora – disse o atendente.
- Pode ficar com o troco.
Saindo da loja o homem segue andando sob o sol forte.
Fernando Moraes

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Levante-se!



Adooro!!
Ganhei estes selos da super fofa Liciane obrigada pelo carinho :D
Priscila - Mar Íntimo




Resista! Mesmo que suas dores pareçam insuportáveis
Lute, mesmo que não tenha mais armas
Levante-se, mesmo que tenhas caído de joelhos
Não tenha medo da queda ela irá te ensinar a voar
Quando o chão se abrir sobre seus pés, liberte-se
Feche os olhos mesmo quando as lágrimas te cegam, pois teu coração será seu guia
Ame intensamente
Se entristeça brevemente
Perdoe incondicionalmente, mesmo quando aquele que te
feriu deixou cicatrizes irreparáveis
Não feche as cortinas do tempo quando o grande espetáculo
da vida está no meio do seu show

Keli Wolinger

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Peso da Alma VI - DESTINO

Desde já gostaríamos de agradecer a todos os leitores do Blog pelo carinho, atenção e interatividade ao longo das postagens dos capítulos deste conto.
Chegamos a etapa final e sentiremos falta rsrsrs.
Perdoem-nos pelo atraso da postagem, mas o texto foi um pouco extenso =P como irão perceber.
Ao Alan, um dos leitores que nos deu a ideia de um final "alternativo", não esquecemos sua opinião e o final será devidamente enviado para você se desejar postá-lo em seu espaço da blogosfera.
Aos demais nossos eternos agradecimentos pela parceria até então.

Muito Obrigada(o)!!

Keli Wolinger e Diogo Campos

Para relembrar:




NATASHA
Natasha encarava a mesa de mármore enquanto sorria com o canto dos lábios. Por quanto tempo insistiu que Denis “o libertasse”, que assumisse de vez quem ele era e qual o seu propósito nessa vida, porém entendia o quão difícil era tomar uma decisão quando se está dividido.
Não importa o que decidissem eles sabiam qual seriam seus destinos e ao que estavam condenados, poderia levar dias, ou minutos, mas já estava traçado antes mesmo que eles tentassem mudar.
Ela mantinha os olhos fechados enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto, a respiração era contida, mas os batimentos cardíacos acelerados. Conseguia sentir ele se aproximar, era Renan. Reconheceria o som daqueles passos mesmo a quilômetros de distância e o cheiro que emanava de sua pele, adorava sentir aquele aroma, mais uma vez conteve-se e engoliu o choro que nascia em seu peito.
Renan se aproximou e por alguns instantes permaneceu em silêncio, Natasha conseguia sentir a ansiedade na respiração dele e dessa forma adiantou-se:
- Pode falar Renan prometo te ouvir.
DENIS
O som estridente da campainha trouxe Denis de volta para seu quarto, um quarto diferente do que costumava ser antes dela. Livros pelo chão, folhas de jornal sobre o computador, dezenas de janelas abertas no monitor e a caixa quadrada de papelão com o nome “PRISCILA” escrito na tampa, ele a esperava. O retorno para o corpo foi rápido demais e ele derrubou o copo de vidro que tinha na mão, que caiu sobre algumas folhas de papel amassadas e jogou para longe as duas pedras de gelo, apenas o gelo, a Vodka já havia sido consumida por inteiro do copo e pela metade da garrafa. Natasha tinha razão, precisava arrumar um meio mais fácil.
Levantou e caminhou até a porta da sala. Ao passar pelo corredor parou diante do espelho apenas para se certificar de uma coisa, “os olhos ainda estavam verdes”. Abriu a porta e ela estava lá, ele não deu oi, não perguntou como ela estava, apenas deu lado para que ela entrasse e fechou a porta tão logo ela passou. Priscila se apoiou no sofá em forma de “éle” e tirou os tênis como sempre fazia, um gesto mecânico ao qual ela só se deu conta ao ver a expressão no rosto de Denis, os olhos dele diziam claramente para ela não se sentir à vontade.
-Como você está? – ela perguntou em uma tentativa desesperada de quebrar o silêncio.
NATASHA
- Natasha, posso te levar para casa, precisamos conversar você não pode me evitar a vida toda... eu preciso muito falar com você, eu preciso...
- Não se dê ao trabalho de terminar sua frase Renan. Chega desse teatro! Sabemos que não é como antes, não há mais nada entre nós, pelo menos da minha parte. Acabou, c’este fini não confio mais em você e, por favor, não me faça ter pena de você além do sentimento de repulsa que sinto no momento.
Natasha se levantou para se desviar da conversa, Renan a segurou pela cintura junto ao seu corpo, fixou seus olhos aos dela e percebeu que eles estavam negros abrasadores. Ela não conseguia entender como ele mantinha o olhar, outros em seu lugar já teriam ficado exauridos.
- Você vai me ouvir Natasha, vai me deixar falar depois você faz o que achar melhor -Renan foi incisivo.
Enquanto a mantinha entrelaçada em seus braços, aproximou seus lábios da nuca de Natasha, o movimento fez um arrepio lhe subir pela espinha ela soltou um suspiro.
- Você pode estar magoada comigo Natasha, mas não pode negar que ainda sente algo muito forte em relação a mim.
- Ódio e uma incrível vontade de matar você Renan – um sorriso irônico nasceu no rosto de Natasha.
- Só te peço, por favor – implorou Renan.
- Você sabe o significado destas palavras? Nossa me admira, você não costuma usá-las com frequência.
Renan suspirou inconformado, mordeu os lábios e movimentou as sobrancelhas uma forma de pedir que ela cessasse os comentários.
- Tudo bem Renan vamos, mas saiba que nada do que você me disser irá mudar o que aconteceu muito menos alterar nosso futuro, o cristal se quebrou e o destino já.....
Antes que ela pudesse concluir a frase Renan a conduzia pelo corredor em direção ao carro estacionado poucos metros dali. Ele mal sabia o que estava por vir, sua vida não seria mais a mesma depois daquela noite.
DENIS
Os dentes dele ficaram a mostra em um sorriso sarcástico, como se não acreditasse no que ela perguntara. Ele a tinha chamado, ele deveria começar a falar, mas mesmo assim não conseguia assimilar o que estava se passando, então deixou que o outro falasse, o libertou, mas o fez como uma mãe que insiste em não largar a mão do filho enquanto este corre para o balanço.
-Como eu estou? COMO EU ESTOU? Você está realmente me perguntando isso? Você sabe o que aconteceu? Você sabe o porquê eu não fui te visitar desde que você perdeu o bebê? Você sabe o inferno que a minha vida se tornou desde que eu descobri que você estava dormindo com o Neto novamente?
-PARA!!! – a voz de Priscila não nasceu de suas cordas vocais, mas do fundo de sua alma, havia mais força naquele grito do que o ar sugado pela turbina de um avião, as palavras de Denis foram jogadas de volta para dento de sua boca. Quando ela continuou, sua voz era branda e lenta, como se tivesse usado todas as forças para fazê-lo parar. –Ele me contou tá bem, ele me contou que se encontrou com você.
Denis ergueu a sobrancelha direita e cruzou os braços frente ao peito, sua voz foi tão sarcástica que despertou uma expressão de repulsa na face de Priscila.
-Aaaah ele te contou? E mesmo assim você está com ele? Mesmo assim você está dormindo na mesma cama que ele sem nem ao menos ter tido a coragem de vir aqui terminar comigo primeiro? – Denis sorria enquanto falava, precisava sorrir mostrar sua verdadeira face, aquilo que realmente sentia colocaria tudo a perder. Priscila não o encarou, olhou para os azulejos brancos do chão e afirmou com a cabeça.
-E você acreditou nele? Na versão em que ele diz que “conversou” comigo, garanto que você também ficou pensando que ao descobrir que o filho era dele e não meu eu deixei de te amar. Eu não deixei de te amar Priscila! – a voz de Denis oscilou e ele foi forçado a parar de falar para evitar as lágrimas, seu vacilo foi disfarçado pelo rompante da mulher em sua frente.
-Se me ama por que me abandonou! – ela gritou levantando os braços e fazendo cabelo esvoaçar no ar. – Por que não me ligou, nem sequer para saber se eu estava viva?
Tão logo a última palavra abandonou Priscila a voz de Denis se fez ouvir.
-Porque eu sabia que você estava viva! Porque foi esse o trato que eu fiz com ele! Porque ele colocou um revólver no meio da minha testa e jurou matar a nós dois se soubesse que nos encontramos novamente. Eu não te procurei porque ele disse que cuidaria de você depois que eu me afastasse, disse que enquanto eu me mantivesse longe você estaria em segurança. Fiz o que fiz... - a voz dele tremeu e desta vez foi impossível conter as lágrimas- Porque te amo.
NATASHA
Natasha observava o reflexo difuso das luzes passando através da janela do carro, o silêncio no interior do veículo só era interrompido pelo barulho do motor. Renan dirigia apenas com a mão direita, a esquerda mantinha pressionada nas têmporas. O trajeto normalmente não levaria mais que vinte minutos, mas hoje parecia durar uma eternidade.
Ao chegarem diante do prédio em que Natasha morava, Renan pediu que ela o deixasse a acompanhar até seu apartamento precisavam conversar, desta vez ela não hesitou apenas fez em gesto afirmativo com a cabeça desceu do carro em silêncio e adiantou-se de Renan.
Natasha sentia o coração bater na garganta, as lágrimas que insistiam em nascer em seus olhos e que disfarçadamente ela secava, seu peito estava dilacerado amava tanto Renan quanto sua outra metade, mas algo havia mudado, seu orgulho foi ferido.
Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio, pigarreou, coçou o couro cabeludo como se procurasse as palavras para iniciar o seu discurso.
- Natasha não estou pedindo que compreenda o meu erro, porque não tem explicação que consiga expressar como me sinto diante de tudo que aconteceu. Não consigo te definir o que fiz, é como se não fosse eu, você pode não acreditar no que vou dizer, mas é como se algo me induzisse a agir assim, quando me dei conta já havia feito.
Ela o encarava com um olhar cético seus olhos tão escuros, intensos e abrasadores que era possível sentir as salamandras que eles emanavam.
-Depois de tudo que eu fiz por você Renan, de tudo o que abdiquei, desses anos todos em que eu confiei em você, de todo o amor que nem sequer um dia pensei em sentir por alguém simplesmente quero que me responda algo: Por quê? Só me responda isso ...
A reação de Renan foi inesperada. De joelhos aos pés de Natasha ele começou a chorar de maneira incontrolável enquanto repetia palavras descompassadas – só não me deixa eu preciso de você, eu preciso....- Natasha jamais imaginou que um dia veria ele agir daquela maneira. Renan era extremamente racional, considerado por muitos como frio, calculista e até mesmo insensível, ele nunca demonstraria fraqueza.
- Levante-se! O que pensa que você está fazendo ... que eu irei ceder, ter compaixão de você? Olhe para mim Renan, veja o estado em que eu estou no que me transformei por sua causa... não serão suas súplicas que vão me salvar, eu precisaria de muito mais que isso... você realmente não compreende o significado de sacrifício, e eu desconheço o significado de perdão. Agora me deixe em paz com a minha dor. A porta pela qual você entrou é a mesma pela qual irá sair pra não retornar mais, agora vá!
DENIS
Ela ficou em silêncio, não pode falar, não havia o que ser dito. Ninguém estaria preparado para aquilo tudo, e diante a expressão em sua face, Denis pode ver o que era óbvio, Neto não falara a verdade para ela.
Ela se precipitou. Ele a viu dar o primeiro passo em sua direção e recuou, mas quando ela deu um segundo ficando mais próxima ele manteve o corpo onde estava, talvez por não ter percebido o que ela faria, mas provavelmente por SABER o que vinha em seguida ele queria que isso acontecesse por mais que não devesse. Ela deu um terceiro passo laçou seus braços no pescoço dele e o beijou. Priscila sabia que mais cedo ou mais tarde ele a repudiaria, mas enquanto os braços dele não a afastassem continuaria onde estava. Ele moveu os membros, mas ao invés de afastá-la eles descansaram sob sua cintura e a trouxeram para junto de seu corpo quente. Caíram sentados no sofá, ela ajoelhou-se sobre ele com uma perna de cada lado de seu corpo ficando mais alta, beijando-o, beijando e passando a mão por seu corpo, seus ombros, seu peito, seu rosto. A respiração cada vez mais rápida, a excitação, há quanto tempo não se sentia assim, não era isso que sentia quando estava com o outro, o que era aquilo? Que sensação era aquela? Será que ela também estaria...
As mãos dele envolveram ambos os braços dela e a forçou a desgrudar de seus lábios. O olhar dela estava perplexo, ele nunca a negara, nunca se opusera e como poderia agora? Depois de dizer com todas as letras que a amava? Foi só então que olhou de verdade para os olhos dele, verdes, embaçados pela água que vertia e escorria pela face, quando ele falou, ela finalmente conseguiu perceber o que sentia.
-Acabou Priscila. Eu não quero mais isso, não quero isso para mim e não quero fingir que está tudo bem entre nós. Não está tudo bem, nunca mais estará diante do que passamos. Vá embora. – ele fez uma pausa, precisava de fôlego para continuar. – Pegue suas coisas e vá embora, para não mais voltar.
NATASHA
Natasha mantinha o dedo indicador em direção à porta, as cores de seus olhos se alternavam, sabia que se Renan insistisse em pressioná-la poderia fraquejar, já havia se decidido, ela precisava manter ele longe, acharia outra forma de ajudá-lo. Caso contrário ela ficaria cada vez mais vulnerável do que já estava e seria mais fácil para seus inimigos fazê-la desistir de vez de sua missão.
Renan levantou-se abruptamente, segurou-a em seus braços e a beijou, ela sentiu como se uma corrente elétrica passasse pelo seu corpo, os joelhos tremeram. Desvencilhou-se dos braços dele e já não governou seus atos, foi tomada pela fúria e cortou o ar com a mão esquerda acertando a face de Renan, antes mesmo que ele pudesse sentir a dor um líquido espesso escorria pela sua face e pelo canto da boca de Natasha, ela havia cuspido em seu rosto.
-Eu tenho nojo de você! Vai embora... sai da minha vida... eu não confio em você saaiii... - Natasha esbravejava em meio às lágrimas.
- Eu amo você! Vou sair porque está pedindo, mas não vou embora. Estarei ao lado de fora esperando você me ouvir.
Renan deu as costas e bateu a porta fortemente. Natasha não se conteve começou a chorar abraçada ao travesseiro. Não podia desistir de Renan o amava, mas sabia que se continuasse ao seu lado iniciaria uma guerra sem precedentes entre dois mundos. Ela já havia quebrado o equilíbrio, até quando conseguiria manter o controle? Não tinha certeza se ainda tinha controle algum, e sem forças, exaurida, caiu no sono, mergulhada em suas indagações.
DENIS
Lágrimas nasceram nos olhos de Priscila. Ela tentou falar, mas suas cordas vocais estavam entrelaçadas, não pode proferir nada, mas sabia que ele estava certo, ela mesma já tentara fazer isso no passado e nunca tivera forças, pena ter descoberto somente agora o que sentia por ele.
-Eu te amo Denis.
NATASHA
Natasha despertou assustada como se retornasse de um pesadelo terrível, suspirou profundamente, sua guerra interna havia começado e as últimas palavras de Denis ressoavam em sua cabeça,
“Não importa se fumamos trinta cigarros por dia, ou um cigarro por trinta anos, o resultado nós sabemos qual é. Não se pode fugir, ou teremos que esperar uma nova vida para retornar e iniciar do ponto que desistimos. Você sabe disso tanto quanto eu.”
Os lábios de Natasha ensaiaram um sorriso, observou a aliança prateada que por anos usou no dedo anelar posta sobre o criado mudo ao lado de sua cama. Levantou-se, parou diante da porta e olhou pelo visor, Renan estava deitado no chão ao lado de fora como havia prometido. Ela vacilou ao segurar a maçaneta, mesmo assim o fez. Abriu a porta ajoelhou-se ao lado dele e recostou seu rosto próximo ao dele.
-Renan acorda, vamos entrar está muito frio aqui, você vai congelar.
Ele abriu os olhos e rapidamente a abraçou.
Eu te amo, nunca se esqueça disso.
Natasha sorriu e pediu que ele entrasse.
- Você está gelado - murmurou.
- E você está quente como sempre? Somos yen e yang. – sorriu Renan enquanto a abraçava e beijava sua testa.
Ela deitou sobre o peito de Renan, enquanto sorria lágrimas molhavam sua face.
–Não importa quem, ou o que você seja Natasha, eu quero ficar ao seu lado, venderia minha alma se preciso.
Renan deixava as palavras fluírem enquanto a mantinha em seus braços. Natasha sentia suas forças retornarem para seu corpo lentamente, ela podia sentir a energia que saia de Renan para seu encontro. Um calor, uma energia boa. Adormeceu. Não havia mais nada a fazer a guerra havia começado.
DENIS
Ela se desvencilhou das mãos dele. Levantou-se e colocou os tênis, amarrou o cabelo com rabicó que usava no pulso e caminhou para o corredor. Ele não conseguiu levantar do sofá, não conseguiu entender o que ela tinha dito, escutou cada palavra, mas não entendeu. Ela voltou pelo corredor trazendo a caixa com seu nome escrito. Abriu por um instante e deixou escorrer mais algumas lágrimas pela face. Ela parou frente à porta de saída e repousou a mão na maceta sem olhar para trás. Denis se colocou em pé atrás dela, mas não proferiu palavras, não sabia o que dizer.
Ambos não conseguiam falar, muito menos enfrentar a verdade. Não existia mais esperança no coração dos dois.
Ela girou a maçaneta e saiu fechando a porta. Ele se demorou, não saiu do lugar ficou encarando a porta de madeira branca. Então correu e a abriu. Abriu rapidamente quase acertando o próprio rosto e olhou a rua e a calçada, ela não estava mais lá. Partira para nunca mais voltar.
Voltou para o quarto e sentou-se diante do computador. A garrafa de Vodka ao lado do monitor. “Quente” – pensou. Juntou o copo do chão e serviu até a metade. Ligou o aparelho de som e tomou o primeiro gole.
NATASHA
Ela abriu os olhos e viu que adormecera sobre o peito de Renan. Não sabia como conseguiu dormir depois daquilo tudo, mas sabia como Denis chamaria: “Exaustão”. Levantou em meio a um bocejo e trançou as pernas para até o banheiro se sentia sonolenta.
DENIS
O som da bateria de qualquer banda de rock que ele não conseguiu identificar o despertou do sono, um sono sem sonhos, daqueles que bebem mais do que o organismo agüenta. A garrafa de Vodka jazia jogada sobre a cama sem líquido algum. Levantou - se e trançou as pernas embriagadas até o banheiro.
NATASHA
Ela abriu a torneira e pôs os pulsos sob a água corrente, água gelada para as mãos eternamente quentes. Passou o líquido no rosto e o sentiu escorrer pela face até o pescoço.
DENIS
Ele abriu o chuveiro e enfiou a cabeça debaixo da água gelada. Olhou para a prateleira de vidro dentro do Box e pegou a espuma de barbear e a gilete, era hora de se desfazer de velhos hábitos.
NATASHA
Ela soltou o ar lentamente mantendo os olhos fechados, apoiou uma das mãos na pia, soltou a cabeça deixando os cabelos vermelhos soltos sobre o rosto.
DENIS
Ele saiu do Box e girou cabeça como um cachorro se livrando da água, pôs a espuma em uma mão e segurou a gilete com a outra.
NATASHA
Ela abriu os olhos diante do espelho.
DENIS
Ele abriu os olhos diante do espelho.
NATASHA
Ela viu sua imagem, mas não reconheceu a si mesma de imediato. Seus cabelos não estavam vermelhos, eram negros e reluzentes. Mudavam o semblante de seu rosto. Sabia que era a si que enxergava, mas ainda assim, uma pessoa completamente diferente.
DENIS
Ele viu sua imagem, mas não reconheceu a si mesmo de imediato. Não havia mais barba, antes mesmo de fazê-la ela havia desaparecido. Não apenas a barba havia mudado sua feição não era mais a mesma, parecia mais austero, mais forte, era a si que enxergava, mas ainda assim, parecia ser uma pessoa completamente diferente.
OS OLHARES SE CRUZARAM
Denis e Natasha
Através do espelho em suas casas separadas, seus olhos se encararam e cada um pôde ver dentro da alma do outro. Petrificaram sobre os azulejos do banheiro e fixaram olhos e mente em apenas um objetivo. Um ao Outro. Viram dentro da essência do ser e enxergaram aquilo que escondido habitava em suas almas.
***
O sol nascia no horizonte criando a primeira imagem de seu reflexo na superfície límpida do mar. O silêncio da imensidão desértica inundava os ouvidos daquele andarilho que agora parava para molhar os pés e acalmar seu espírito. Momento em que o circulo laranja nasce da água até o instante em que desaparece, uma janela de tempo se abre uma vez a cada cento e sessenta e oito horas uma vez por semana. O último momento real da quinta feira.
As ondas trazendo o néctar de Kronos chegavam à beira da praia molhando os pés de Denis, ele estava parado com as mãos nos bolsos, de olhos fechados e virado para o sol escutando o doce som do vai e vem infindável das águas salgadas. Acalmava seus pensamentos, limpava a mente e esperava pela companheira.
-Gostei dos cabelos negros Natasha – falou para o nada sem abrir os olhos ou escutar os passos da chegada, mas ela já estava sentada à suas costas sobre um tronco de madeira cinza na areia.
-E parece que finalmente você resolveu me escutar e tirou a barba – respondeu a garota. - Ela quer falar com seu amigo deixe-o sair. – As palavras eram mais firmes do que um pedido formal, quase uma ordem, mas com a consciência medida que não se deve ofender forças com as quais não se compreende por completo.
Denis sorriu.
-Enfim colocaremos os quatro face a face – Denis deu as costas para o sol e abriu os olhos, encarando Natasha. Tinha olhos diferentes.
Um verde.
E um castanho mel.
-Olá minha amiga, há quantos anos não a vejo? – as expressões faciais também estavam divididas. O largo sorriso no rosto de Denis dominava apenas seu lado esquerdo, enquanto o lado do olho verde permanecia sério.
-Séculos eu diria, e não apenas como figura de linguagem. Mas sabe muito bem que não foi para isso que o chamei aqui. – Natasha não tinha expressões alegres, seu rosto era duro como uma pedra. Ambos os lados, com a única diferença de um olho castanho, e outro negro e profundo. O mesmo olho que Denis não ousava encarar sozinho.
-Espero que tenha algo bom, não enchi a cara de Vodka para vir aqui perder meu tempo.
O meio da testa de Natasha se enrugou e sua voz ecoou pela praia deserta.
-Já te disse para aprender a controlar este seu corpo! Precisa conseguir fazer a assimilação sem a necessidade dessa bebida!
As mãos de Denis continuaram em seus bolsos e o seu característico sorriso surgiu em seus lábios, nas duas metades.
-Descobri o que sou com vinte anos de idade minha cara. Você é mais velha nesta existência, consegue ir e vir com mais facilidade.
-Precisa cuidar mais desse corpo, ou vai ser punido quando voltar.
-Não me faça rir falando de punições agora – um leve tom sarcástico pairava na voz de Denis. - O que me importa se o “Grande Pai Todo Poderoso” decidir me punir. Fazer o que ele faz conosco já é uma grande punição.
-Não fale assim de nosso Pai! Ser o que somos é uma honra, somos guias, somos aquilo para o qual as pessoas rezam antes de dormir!
-ELE NÃO É NOSSO PAI! – Denis tirou as mãos dos bolsos e apontou com o indicador para a amiga como se a ameaçasse. - Sabe que não, e sabe que ele não nos considera como filhos! Ele pode dizer isso, mas um pai não amaldiçoa os filhos como Ele faz conosco!
-Denis, você precisa entender...
-Entender o que? Entender que por conta dos erros dos filhinhos perfeitos com auréolas dele nos seremos punidos?
Natasha soltou o ar como se unisse força para continuar falando.
-Um anjo não pode ter sentimentos humanos Denis. Nossos pais desrespeitaram isso, eles amaram homens e mulheres. Pelas leis Dele, a nossa existência não deveria nem mesmo ser cogitada.
-E você diz que ele nos permitir estar aqui já é uma grande bondade.
Natasha balançou a cabeça negativamente olhando para os pés enfiados na areia.
-Sabe o que dizem não?
Denis ergueu as sobrancelhas, sua expressão falava por si só. (O que?)
-Ele escreve certo por linhas tortas.
-Faça-me o favor Natasha! – explodiu Denis, incrédulo ao escutar as últimas palavras da amiga. – Somos o limbo das raças celestes, nem perfeitos para sermos Anjos, muito menos imperfeitos para nos tornarmos Demônios e tão pouco medíocres para sermos Humanos. Não temos nem sequer o direito a um julgamento, ambas as portas estão fechadas para nós, tanto as de cima quanto as de baixo. Então se você quer falar de honra, não escolha a mim para seu ouvinte.
-Denis, você precisa aceitar, é o filho de um Anjo com um humano. Isso lhe dá tarefas, lhe dá responsabilidades que os outros seres não têm. Precisa aceitar isso e aprender a lidar com este fato.
Apenas as ondas se fizeram escutar o sol já aparecia quase completamente no azul do céu.
-Foi para isso que me chamou aqui? Para mostrar para esse rapaz o que existe dentro dele? Pois bem, sua tarefa está cumprida. – Denis colocou as mãos de volta dentro os bolsos e começou a andar para o mar.
-Agora que nós quatro estamos cientes da verdade Denis, você está pronto para encarar o que vem pela frente? Sobreviver à guerra que acabamos de dar inicio?
Denis parou de caminhar e olhou para trás, primeiro com o lado esquerdo, o olho castanho, depois com o lado direito, o olho verde, então falou:
-Nós vamos descobrir isso juntos Natasha. Não fomos enviados juntos para esse campo de batalha durante tantas existências por mero acaso somos parceiros, enquanto houver um, o outro não falhará.
Ambos sorriram ele então se virou para mar.
-Denis! – chamou Natasha.
E ele olhou para os olhos dela, como os seus também distintos, um castanho e outro negro.
-O que?
-Bem vindo de volta amigo.
Ele sorriu.
-Sim, você também.
O sol laranja abandonou o mar e flutuou sozinho na imensidão azul do céu, deixando a areia deserta, sem pegadas, sem pés a serem molhados nem troncos para andarilhos descansarem. A janela se fechava e largava seus soldados ao mundo real prontos ou não para cumprirem suas missões.
THE END
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