Depois de uma pausa, o ar faltou, a saudade apertou o peito e não pude conter a saudade de todos.Estou correndo contra o tempo, mas nada que me faça deixar este espaço. Para marcar a volta retomo uma ideia que meu amigo Diogo Campos e eu, há muito estávamos comentando. Um texto despretensioso sobre o sentimento que abala os corações: o amor. Porém em uma visão um pouco distinta da que estamos acostumados (E sim, Closer é um dos meus filmes preferidos no qual esse texto pincelou algumas singularidades) . É uma continuação de A nova namorada do meu melhor amigo. Espero que gostem e boa leitura!
- Por que você não consegue
suportar a verdade?
- Como? Não entendi garota?!
Estou te mostrando a prova cabal de que minha pseudo namorada está me traindo e
é isto que você me diz!
Mais uma vez a sobrancelha
esquerda dela arqueou-se, ele sabia que não era bom sinal, sempre significou
reprovação.
- Você não vai começar a falar
que é maduro agora vai? Você é o filho da mãe mais egocêntrico, autocentrado da
face da terra. Engraçado ouvir isso de você, pois quando foi mesmo que você
levou aquela garota para cama sem ao menos perguntar o nome?! Hum, deixe-me ver
foi quinta né, ou seja, para ser mais precisa há menos de 24 horas. Que
incrível! Gesticulou ela abanando as mãos em sinal de desdém.
- Você é irritante sabia? Garota
falo sério, você tem esse dom de chatear as pessoas. Não importa o que eu fiz
estamos falando dela ok! Foco. Vamo junto. Apenas olhe a porcaria da mensagem, caralho
velho! Será que é pedir demais? Engula o
feminismo e veja você mesma a droga que está na tela, por favor. Ele indicou
apontando para o objeto que estava em suas mãos.
- Você é um canalha estúpido. Vociferou ela.
- Qual é eu disse, por favor, falou
enquanto passava para amiga o notbook em
suas mãos.
Ela exasperou pesadamente no
mesmo instante em que seus olhos percorriam a tela iluminada à sua frente.
- Você não é sempre um cretino,
só às vezes. E está sempre certo, mas vamos relembrar só por alguns momentos
como toda essa situação começou. Ela estava namorando um boçal acéfalo, depois
de uma das inúmeras brigas entre eles ela enche a cara e ualá, nós a
encontramos e literalmente ela cai em seus braços. Dessa situação direto para
sua cama não demorou lá muito tempo, então um belo dia vocês decidem brincar de
namorados, porém ambos continuaram uma vida paralela e agora você me vem com
essa de olha isto? Que parte da história eu perdi? Perguntou a amiga com
sarcasmo.
-Tudo bem, você quase me
convenceu. E você sabe que meu orgulho não permite admitir, mas pode ser que
você tenha um fundo de razão em suas palavras, acontece que antes eu era o
outro e agora.... Suas palavras foram interrompidas muito antes que ele pudesse
concluir seu pensamento sobre o fato.
- Agora a situação se inverteu e
você não gostou nem um pouco do que sentiu. Acontece meu caro que você sempre
faz o que quer, não presta atenção no que ela diz e talvez isso seja o que a
incomoda. O fato de você não escutá-la. E quando faz é só para apontar os erros
dela. Em tom irônico a amiga retrucou, enquanto
mantinha os braços cruzados no peito e batia o pé direito no chão em sinal de
impaciência. Sem pestanejar continuou a enxurrada de palavras:
- “A minha opinião é a minha verdade”-
lembra? Se não me engano essa frase é sua, entretanto, agora o gosto amargo que
você está tentando engolir não é nem um pouco saboroso, ou é hein? Questionou
ela.
Ele a encarou por acima das lentes
do óculos e atirou o not sobre a cama, enquanto apertava as têmporas.
- Não! A resposta foi intrínseca.
- E lá vamos nós “ao infinito e
além”... Você já me disse que é errado
tratá-la como se fosse mais fraca que você, pois então como estamos? Se bem te
conheço imagino qual será seu próximo passo, todavia, estarei aqui depois de
tudo. Só um pedido, evite me ligar pela madrugada. Ela girou os calcanhares e o
deixou a sós com seus pensamentos. Por um tempo ele preferiu o silêncio.
Mais uma vez estava sozinho.
Abriu a porta do seu quarto o cheiro do perfume dela ainda estava em suas
roupas, um sorriso irônico nasceu em seus lábios “- você tem razão garota, sabe
o que irei fazer”. Seguiu até estante abriu uma garrafa de vodca, serviu-se, fez
um brinde imaginário -“você sabe né, nunca tomo o primeiro gole sem brindar” e
virou de uma só vez o conteúdo. Precisava de música para relaxar tinha o
restante do líquido ardente para entornar garganta adentro. Ligou o desktop
escolheu em sua biblioteca a pasta apropriada para o momento e não pode deixar de
conter o riso, o som instantaneamente tomou conta do apartamento.
As horas se passavam sem ele
perceber, a madrugada engolia o passar do tempo. Como que por instinto abriu os olhos. Reconheceria
mesmo a distância os passos que vinham das escadas a campainha tocou, ele não
poderia deixar de se sentir vitorioso.
Os solos de guitarra anunciavam
algo em uma melodia e arrebatadora:
“So close no matter how far.Couldn't
be much more from the heart forever trusting who we are and nothing else
matters. Never opened myself this way, life is ours, we live it our way all
these words I don't just say, and nothing else matters…”
Ao abrir a porta só
pode sentir o passar de um vulto e o leve toque dos cabelos claros roçar em seu
braço.
- Você está ouvindo
esta porcaria outra vez? A garota pronuncia indignada.
- Que eu saiba o
apartamento é meu, a biblioteca musical é minha e eu tenho o direito de ouvir o
que eu bem entender e gostar. Pronunciou ele em tom levemente provocador.
- Também tanto faz.
Apenas me deixe falar, por favor, eu preciso. Sua voz saiu com um sussurro de
clamor.
Antes de qualquer
coisa ele precipitou-se e disse:
- Eu te amo! Sua
voz saiu em um tom mais alto do que pode prever.
- O quê? Como? Pode
repetir... eu não ouvi. Ela gesticulou com a cabeça em tom de incredulidade.
Ele apenas movimentou
a cabeça para o lado deixando que ela continuasse a falar.
- Você precisa de
mim, e pode até me amar, mas não se importa comigo. Quero que você se importe
mais do que apenas com aquilo que quer e pensa. Eu mereço isso, alguém que
realmente se importe comigo. Porque isso é tudo que importa. Ela cuspia as
palavras com tanta ferocidade que o fez rir.
- Você bebeu?
Questionou ele.
- E que importância
isso tem? Contestou ela.
- Depende do grau e
relatividade que você impõe a isso. E porque nunca a ouvi falar a palavra importância tão repetidas vezes como
agora, ainda mais vindo de você. Rebateu ele colocando as mãos na cintura em
sinal de inquietação.
- É eu bebi. Talvez
mais ou a mesma quantia que você. Falou
apontado com o canto dos olhos para garrafa vazia no chão da sala.
- Mais isso
importa? O fato de eu estar por assim dizer com o álcool em grande quantidade
no meu cérebro? Protestou ela.
- Eu não sei, deveria? Retorquiu ele.
- Sendo assim eu também posso falar que te
amo. Quer dizer eu não estava pensando em falar, ou melhor, estava, mas
sem pensar só em mim de quem eu sou de verdade ou normalmente, contudo em quem
somos juntos. Ela concluiu a frase quase
como em um monólogo.
- Eu te amo! E isso
machuca. Insistiu ele olhando fixamente nos olhos castanhos marejados da garota
diante dele.
- E por que esse
amor não é o bastante para estarmos juntos? Indagou ela procurando manter os
olhos fixos nos dele.
Ele apenas gesticulou
negativamente com a cabeça de forma a demonstrar incompreensão.
- “Onde está esse
amor? Eu não o vejo, eu te ouço, escuto umas palavras...” - sussurrou ela dando
as costas para ele correndo em direção à porta.
- “Mas não posso
fazer nada com suas palavras vazias. Eu te amo porque não precisa de mim.”
Ambos repetiram a mesma frase, enquanto se distanciavam sabiam do que estavam
falando já haviam visto esse mesmo filme.
Keli Wolinger