terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Enquanto a cidade dorme


Estou de volta meus queridos leitores! Peço perdão por esse longo período de ausência, mas realmente precisava de vírgulas, pausas para retornar com fôlego renovado para o blog. O Natal passou, mas nem por isso vou deixar de desejar meus votos de prosperidade e muita alegria para vocês que dedicam seu tempo para vir até aqui e contribuir com pedacinho de cada um. Seja em seus depoimentos ou diversas demonstrações de carinho. Temos um Ano Novinho e cheio de novidades por vir.
 Enfim... entreguei os primeiros capítulos do temido livro, de uma das disciplinas finais da facu. Confesso que estava ansiosa com o parecer do professor, contudo, o resultado foi bem compensador e agora respiro mais aliviada. Compartilho com vocês o capítulo inicial e aguardo a opinião, críticas e sugestões.
Lembro a todos que se trata de um romance de não ficção, ou seja, o fato (nesse caso um acidente automobilístico) aconteceu, porém os pormenores e algumas circunstâncias são fruto da mais pura literatura não contendo traços da realidade. Todos os depoimentos, detalhes e dados são produtos de entrevistas com alguns dos envolvidos, clipagens de matérias jornalísticas, consulta à base processual todos devidamente documentados. O nome das personagens foram alterados para preservar a segurança das mesmas.
Espero que gostem e boa leitura!
Keli Wolinger

Capítulo 1

Encruzilhada
Rasgou a madrugada ecoando entre as ruas um estrondo tão intenso quanto o despertar de um monstro enfurecido. O barulho do metal tilintando contra o asfalto abafou-se em seguida com o soar ininterrupto de um alarme.
Os moradores, assustados, abrem suas janelas na tentativa de identificar de onde vinha o som ensurdecedor que os fez acordar naquela até então, tranquila noite de sábado.
Pairava no ar o cheiro de pneu queimado no asfalto, gasolina, fumaça e destruição. O motor do automóvel rugia como um animal agonizando. O letreiro luminoso no teto do carro piscava enquanto faíscas saltavam junto com a fumaça. Os pedaços do carro espalharam-se pela extensa Avenida Santos Dumont, popularmente conhecida como Terceira Avenida em Balneário Camboriú.
O soar contínuo do alarme provinha de um estabelecimento comercial invadido por uma camionete preta que estilhaçou uma parede de vidraça, rompeu uma coluna de concreto e arrastou os móveis em exposição. 
Antes do nascer do sol, por volta das 5h da madrugada do dia 20 de dezembro de 2009, no cruzamento da rua 2000 com a Terceira Avenida, o motorista da camionete, acompanhado de mais dois jovens, voa baixo com os faróis apagados e colide na lateral de um  táxi. O táxi percorria a via principal sentido Norte/Sul. Após a batida o carro do estudante invade uma loja de móveis planejados. Durante o choque violento entre os automóveis, o táxi foi arremessado do outro lado da rua.
Vinte e nove segundos. O tempo exato da criação de um cenário devastador. Entre o metal contorcido, os airbags acionados, restos de concreto e vidros despedaçados, três jovens se debatem dentro de um veículo parcialmente destruído. Um empurra o outro para tentar sair mais depressa. Enfiam os braços para fora do carro na tentativa de destravar a porta emperrada. Só conseguem destrancar a porta traseira da direita. Pulando uns sobre os  outros deixam para trás a camionete.
O jovem motorista sai à procura do alvo que por fatalidade atingiu. Sua visão está embaralhada, a cabeça retumba como a maior relojoaria do mundo a meia noite. Desorientado cambaleia em direção ao esboço desfocado à sua frente.
Algo quente escorre pelos seus olhos. Instintivamente a ponta dos dedos toca sua testa. Sentiu-se vendo o mundo de dentro de uma gaiola, olhando tudo através de uma película vermelha. Engoliu seco, arqueou-se ao longo do corpo, a cena exposta era estarrecedora. A pulsação acelerou e a assimilação com a realidade o fez despertar do transe. O grito não saiu, ficou preso na garganta.
Há corpos estendidos no chão. Três ocupantes do táxi foram jogados para fora do carro. Um tapete vermelho se alarga na calçada de petit- pavé.
Dentro do veículo o taxista, preso pelo cinto de segurança, agoniza. Em meio à destruição e o caos um sopro de vida. A quarta ocupante do táxi respira fracamente.
Um burburinho generalizado toma conta do local. Em poucos minutos a extensa avenida é tomada por curiosos. O jovem está sozinho. Seus amigos o deixaram à mercê da própria sorte. Assustados com a gravidade do acontecido, os dois ocupantes da camionete deixam o local do acidente.
Confuso, ele não consegue identificar quanto tempo se passou desde que abriu a porta e andou até aquele caminho. Seriam quinze, vinte, trinta segundos? Ou talvez mais? Já não sabia ao certo se realmente estava acordado.
As luzes vermelhas estroboscópicas das viaturas podiam ser vistas a 500 metros, e pintavam todo o céu de vermelho; as sirenes alarmantes ecoavam furiosamente entre as vielas.
Policiais se apressam para chegar até o aglomerado de pessoas que bradam agressivamente contra o jovem - com as roupas manchadas de sangue. Enquanto os guardas tentam conter o avanço dos populares e interrogar previamente o condutor da camionete, os socorristas cobrem os corpos expostos no asfalto e iniciam a reanimação dos sobreviventes.
A noite estava longe de chegar ao fim.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sem saber do amanhã


“Desenhei miragens tolas nas margens do seu deserto e uma verdade impossível só pra ter você por perto. Skank”



Dentro de mim existe uma louca e uma coerente. Depende de qual desperta pode – se ouvir os pensamentos pedindo conselhos ao silêncio. Nunca saberei ao certo qual o resultado do estrago que causei. Do medo que escondi, do grito que silenciei, da lágrima que caiu e do beijo que te neguei. Minha alma está algemada em memórias irreais, dentro do peito arde a chama da lucidez. Você duvidou da minha coragem e da sensatez das minhas palavras. Também sei ser fogo sem queimar e saudade de doer. Quando te disse para não voltar fui sincera, porém você não acreditou que eu desataria os laços que nos uniam. Na verdade seu orgulho jamais permitiu admitir que eu sobreviveria sem a sua presença. Seu sorriso não me assusta, sua voz não me condena. Por mais distante que eu deseje estar desse amor, mais profundo ele adentra na caixa torácica. Que me sufoque a distância, ainda assim sussurrarei verdades. Não temo tempestades, pois os ventos desalinham meus cabelos e me fazem voar. Quando meus pés tocam o céu, fecho os olhos, uma certeza me faz recuar... eu morri. Com um riso travesso lá vai o amor, pulando entre as nuvens levando em suas mãos aquilo que um dia chamei de coração.

Keli Wolinger
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